terça-feira, 2 de novembro de 2010

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Viva o progresso!!!!


Gostaria de relatar um trabalho científico que encontrei no Biotério Central da UEFS, que se utiliza de experiência com ratos.
A princípio não sabia do que se tratava o Biotério, só sabia que era do Departamento de Biologia e estavam precisando de uma estagiária. Como eu estava precisando de dinheiro, concorri à vaga e fui selecionada mesmo sendo do curso de História. Quando descobri que era um espaço reservado para criação e experimentação com ratos pensei em imediatamente desistir, mas acabei por me convencer que seria uma boa experiência e que rejeitar não seria melhor opção.
Na experiência relatada nesse primeiro trabalho, é observado o comportamento de ratos com o uso de Diazepan (comercializado pelo laboratório Roche no Brasil com o nome de Valium) é fármaco pertencente a família dos benzodiazepínicos. É um pó cristalino, heterocíclico, usado como ansiolítico, anticonvulsivante, sedativo e relaxante muscular -(Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre).

O texto introdutório ao trabalho fala sobre os avanços científicos dos últimos séculos devido ao uso de animais como cobaias, principalmente depois do surgimento da Genética no século passado. Ressalta sobre a importância do modelo experimental em camundongos, como todo e qualquer trabalho desse tipo que justificam o uso por serem animais de pequeno porte, assim de fácil manuseio, por se reproduzirem rapidamente e por apresentar reações orgânicas “semelhantes” aos dos seres humanos.

O material utilizado na experiência: 10 camundongos (isso mesmo, material, não vidas...), 2 gaiolas, 2 bebedouros, seringas 1 ML, luvas

O método: separadas em duas gaiolas são devidamente alimentados com ração e água (muita generosidade), antes de ser injetado o medicamento. O Diazepan é um calmante por isso o indivíduo precisa apresentar o quadro de estresse. Então foi preciso estressar os animais antes da aplicação do calmante. Aumenta-se a temperatura de 21° (temperatura ideal para os animais) para 25° graus (temperatura ambiente), causando desconforto e agitação entre os camundongos, então é aplicado o medicamento que em cerca de dois minutos faz efeito, deixando os animais sonolentos e sedados. Essa mesma experiência foi feita durante 3 semanas para perceber a freqüência das reações, sendo aplicado 1 ML de Diazepan por dia (excluindo os sábados e domingos).
Resultados: Depois que o efeito do Diazepan passava os animais continuavam agitados e eufóricos, a ponto de brigarem e sobreviver apenas o mais forte da gaiola.
A conclusão da experiência é mostrar os efeitos adversos do medicamento que pode causar nos seres humanos.
Agora eu pergunto: isso já não é algo dado pela comunidade científica? Não é um medicamento vendido apenas com prescrição médica? Não se tem algum trabalho relacionado as substâncias contidas no medicamento e os danos que causam aos organismos?

Quase todos os medicamentos e produtos diversos que nós utilizamos no nosso cotidiano foram de alguma forma testada em animais, para perceber reações e funcionalidade. Isso pode ser justificado na melhoria da qualidade de vida e no especismo de que não podemos utilizar o ser humano em pesquisas experimentais. Eu gostaria de questionar a comunidade científica da validade dessas experiências ainda hoje, como os absurdos que acontece com dissecação de animais em aulas práticas em muitas universidades, ou pela curiosidade de certos indivíduos em repetir experiências registradas em vídeos e em trabalhos científicos reconhecidos pelo meio acadêmicos. Acontece na verdade uma banalização do uso do animal, que se torna muitas vezes apenas um objeto de curiosidade de iniciantes nas áreas das ciências biológicas, odontológicas, etc.
Esses dias tenho visto a dificuldade imensa de se distanciar dessa realidade, é na verdade uma cadeia onde todos tiramos proveito. Todos nós somos especistas, uns mais outros menos. Somos especistas ao desfrutar dos tantos avanços tecnológicos que deram cabo da vida de milhares de vidas de camundongos, gatos, cachorros, chipanzés, coelhos, etc. todos somos vítimas e culpados nesse mecanismo de naturalizar as coisas, de dar valores determinados ao que nos interessa, de banalizar a morte quando conveniente.
É engraçado porque se fala tanto em vida no meio dito “ético” e científico da sociedade que chegamos a conclusão que vida na verdade significa “vida do ser humano”, aliás “vida de certos seres humanos privilegiados”, dentro do próprio especismo criamos cadeias do que valores de vida, “minha vida tem mais valor do que a de um gato que tenho em casa que por conseguinte é mais importante do que a do rato aqui do Biotério” , mas com certeza a vida de um estudante de medicina dessa universidade é mais importante do que a minha, uma simples estudante de História.
Enquanto digito isso, tem centenas de Ratos Wistar na sala ao lado (que só cheira a Amônia) esperando o grandioso dia se tornarem mártir em prol da comunidade científica e do “progresso da humanidade”.
(...)

domingo, 1 de agosto de 2010

Domingo a noite

Ocorreu-me essa noite o cheiro de coisas estranhas. A luminosidade latente causou-me asco, e não foi pelo astigmatismo que me consome, mas pela necessidade do escuro, de fechar os olhos e não ver ninguém. Os vultos de pessoas passavam, as mulheres dançavam, e eu não conseguia nem se quer apreciar os movimentos dos seus corpos suculentos. Fiquei irritada, senti vontade de sentar, não pela dor nas pernas, mas pela preguiça de ficar em pé. Sentei, e por incrível que pareça não veio pensamento nenhum, nada. Nem as imagens figuravam, nem eu desfigurava coisa alguma. O som até que não me desagradava, mas percebi que o ambiente não me pertencia. Pouco me interessava saber quem era aquele homem que estava mais distante, debaixo daquela árvore e me olhando. Não lhe negava olhares também, mas olhava por assim dizer, como uma forma de distração e abstração, talvez. Fora do espaço, uma vontade louca de voltar pra casa. De súbito, sem mas nem porque desci a Getúlio Vargas correndo a caminho do terminal; sabia que não daria tempo de pegar o UEFS Sobradinho, mas senti uma vontade de correr, e o fiz como desculpa. Mesmo sentada, sem companhia, não conseguia imaginar muita coisa, só repetia frases que havia ouvido mais cedo, de alguém que sabe se lá o que, ou porque havia me dito “você não vai embora”. Achei autoritário, vazio, tanto quanto seus olhos. Corri por preguiça de me despedir, de dizer “tchau” ou “depois a gente se ver”; coisa do tipo, que tenta significar alguma coisa, mas por fim são só mais delongas. Ainda bem que o UEFS Maria Quitéria veio antes do que qualquer pensamento bobo brotasse na minha cabeça.
Aplausos aos meus grandes companheiros da noite: Marron, Branco e Sariguê

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Treze meses e oito dias


A vontade em si se manifesta, o prazer é apenas o desvio momentâneo da dor. A tentativa da manutenção a ordem e da paz pela matriarca não se sustenta. Desde que assisti Rocco e i suoi fratelli (Luchino Visconti, 1960), não consigo tirar Nadia (Annie Girardot) da cabeça. Personagem misteriosa e intrigante, caracterizada como “a prostituta” e a causadora dos danos e da desordem, na verdade me parece a mais sincera e justa dos personagens. Tudo que se mostra de Nádia é muito superficial e estereotipado. Suas pernas a mostra, seus olhos de gato, sua gargalhada magnífica. Sua dor e melancolia estão escondidos atrás dos óculos escuros. Simon só significou uma aventura como outra qualquer que tivera em sua vida, Rocco significava a redenção, a esperança e a fé nas coisas. Mas a ordem se degrada, o caos é instaurado. A paixão obsessiva de Simon e o humanismo exacerbado de Rocco na objeção de Nadia se contorcem. O seu corpo é ofendido e oferecido na prova que não há amor nem esperança.O revés do não correspondido se encontra nas mãos, no chão, no esgoto, no corpo estendido que geme de sofrimento e não de dor física; e que ainda clama por vida, num clamor com mais desespero do que vontade.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Memorial do subterrâneo- morte de Deus e ascensão da vida

A igreja me servia como um parque de diversão, corria as galerias, descia as escadas, brincava de pique-esconde. Ouvia o sermão como quem ouve o ronco de um motor, não entendia muita coisa que o pastor dizia. Adorava minhas amigas, fazíamos coreografias, jograis. Todas nós sabíamos que estávamos fazendo por louvor a nós mesmas, mas achávamos melhor pensar que era em louvor a Deus. Mas Deus se escondia, eu procurava seu esconderijo encarecidamente em todos os cantos da igreja, da casa, mas me perdia no caminho. Tolos, todos, fazendo cena, representando no grande palco que nos encontrávamos inseridos, o caos da doutrina reinava em absoluto. Os muros daquele labirinto não me trouxera somente alegria e diversão aos meus tempos de menina, também trouxera terror, angustia e muito medo. Tinha medo do meu nome não está escrito no livro da vida; tinha medo de dormir e Jesus voltar levar a todos e me deixar; medo de estar pecando sem saber, pecando em pensamentos. Me sentia frustrada quando fechava os olhos e não via Deus; quando lhe pedia um sinal de sua existência; quando pedia um brinquedo; um emprego pra o meu pai; a unção do Espírito Santo; o que sentia era o peso dos meus olhos apertados pela corrente de lágrimas contidas e voluntariamente estimuladas. Aos meus 13 anos, além dos hormônios da puberdade, vieram também as inquietações e conflitos. Queria cortar o cabelo, pinta-lo de vermelho, externalizar meus anseios de mudança. Meu pai já não estava mais em casa, não tinha nada que me impedisse. Cortei o cabelo, pintei-o de vermelho, vesti preto e passei meu último reveillon na igreja. O mundo se abriu a minha frente, como se estendesse um tapete vermelho e eu agora fosse a protagonista da minha própria história. Com a mudança do cabelo veio a mudanças da cabeça. Foi a música, foram os livros, foi a noite que me mostrou a beleza do mundo lá fora e aqui dentro de mim. A desistência de Deus só veio tempos depois, com muita relutância, muita dor, muita insustentabilidade. As orações cessaram e Deus parou de existir. A morte de Deus veio com muita luz, arte e humanidade.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Vamos invadir o paraíso!!



“Mais salário e menos trabalho” é o grito que ecoa dos estudantes que estão do lado de fora das grades que cercam a fabrica; de dentro os operários que se encontram trabalhando mecanicamente são obrigados a cumprirem uma cota de produção prevista pela indústria.Os de fora chamam pela revolução; os de dentro tentam uma conciliação entre patrões e empregados. Esse é o paradigma que compõe A Classe Operária Vai ao Paraíso (La Classe Operaia Va in Paradiso, Elio Petri, 1971), cinema político italiano, ganhador da Palma de Ouro do Cannes em 1972.
Entre aqueles que estão preocupados com a “revolução” e os que pensam na sua sobrevivência cabe uma intercessão, como mediar as lutas entre oprimidos contra os opressores? O personagem principal Lulu Massa (Gian Maria Volonté), é um dos operários, talvez o mais reacionário de todos, que apesar de sua condição sofrida de trabalhador (teve intoxicação, úlcera e em casa não consegue mais fazer sexo com a mulher de tão cansado que chega do trabalho), é o que mais reproduz ideias burgueses de valorização do trabalho. Os mesmo ideais são vistos em sua mulher Angelli, que diz em uma fala emocionadíssima gostar da “liberdade” de poder comprar e que um dia terá um casaco de pele, porque trabalha e merece. Esse desejo é expresso como se fosse algo essencial para a sua sobrevivência, como se fosse o alcance do sublime, da felicidade; o fetiche da mercadoria é confundido com o ideal de liberdade, onde essa se condensa no poder de compra, e o mais ridículo é que esse poder é quase inoperante para essa classe operária.

Lulu perde o dedo em um acidente na fábrica. Esse acontecimento faz com que ele comece a tomar consciência das formas de opressão que lhes são impostas, principalmente quando lhe é questionado pelos estudantes sobre a condição de vida que levava. Em uma assembléia com os operários onde a maioria se sente intimidado, com medo de perdem seus empregos, votam contra a greve generalizada e contra o fim das cotas. Lulu é tomado pelo espírito de revolta por conta da decisão tomada pelos colegas e lança ironicamente a proposta de que se dobre a cota, e que todos trabalhem aos domingos e feriados, todas as noites, e levem seus filhos para ajudar no trabalho e suas mulheres para fazerem sanduíches, trabalhando sem parar, até morrer.
Lulu é demitido depois de se envolver com os estudantes em conflitos contra a polícia. Sem emprego, começa a perceber que seus ideais de sobrevivência divergem daqueles que estão propondo uma “ditadura do proletariado”, as necessidades imediatas falam mais alto do que a espera de uma revolução que vai acontecer a qualquer momento.

O personagem mais fantástico, ironicamente é o louco da história, Militina é um ex-operário e amigo Lulu, cujo trabalho fordista da industria que trabalhava o levara a loucura. Em uma conversa com o amigo, Militina se expressa de forma magnífica, apontando para os loucos do manicômio e dizendo que todos eram trabalhadores, que foi sistema que os levou a loucura, e fala quase em segredo “Lulu, é o dinheiro, todos fazemos parte do mesmo jogo, patrões e escravos do jogo do dinheiro. Nós enlouquecemos porque temos pouco e eles porque tem demais. E assim é esse inferno”.
Entre o risco da loucura por trabalhar demais e o de ficar louco por não ter como se sustentar, Massa (Lulu) opta pela sobrevivência. Consegue ser readmitido. Volta ao trabalho, ao mesmo mecanicismo, a ser o operário mais ágil e exemplar.
Não vejo pessimismo nenhum nisso, vejo apenas uma perspectiva lógica, de que infelizmente nem tudo é tão fácil de ser encarado; os idéias existem, mas precisam de uma sustentação material para aderirem aqueles que precisam comer primeiro para depois "pensar".
Apesar da volta ao cotidiano, da não revolução, do trabalho mecânico (que a câmera captou perfeitamente) existe uma utopia, Massa conta de um sonho que tivera aos colegas, que entre o barulho das maquinas é repetido aos gritos de um operário ao outro; Lulu conta que havia sonhado com um muro, que havia morrido e encontrara com Militina que lhe dissera: “vamos quebrar tudo e vamos entrar, quebramos tudo e entramos no paraíso, todos contra o muro” e o muro caiu, e estavam todos lá, todos os operários juntos.

sábado, 19 de junho de 2010

Teatro das representações alheias

Preenchendo os vazios com os espaços
A solidão pela solitude
Os dias com as noites
(O sono reina em absoluto)
O quarto cheio de imagens, mas nada figura o bastante
As palavras são ocas
Poucas
Limitadas
Só nos diz o mínimo do imediato. O resto fica.
“Caracóis! Caracóis!”, não consigo parar de chorar pensando em Remédios. Queria poder Ser, sentir, a ponto de esmagar caracóis com os dentes. Tenho muito medo do que me surpreende possa não existir ao não ser na ficção. Tenho medo do real, do não sentir, do frio.
Há muitos quartos vagos, muitas salas vazias
Deus é muito pouco. É representação besta, despeitada.
Não tenho fome. Tenho cansaço... Expectativa.....................
Queria fazer parte do imaginário de um escritor alegórico

Óbito

As pessoas fogem...
Correm...
Escondem-se...
Para evitar o risco de se sentirem vivas

sábado, 22 de maio de 2010

Crise de per(curso)

Uma busca suja do que se seria completar
Uma fuga burra do que se pensa ser,
contemplar.
Os dias-
-O corpo
Só os artistas são felizes, mesmo na dor, na merda, na agonia, são felizes
São.
E eu só; na busca oceânica do [de] me reconhecer. Só as vezes. A criança se esvai de mim. Id fica;
O resto. O resto são dias; dever. porvir, o indo sendo/será?
Porra de amarras que não me deixam saltar, pular, me jogar de vez, ver; morrer; morte do feito. O por fazer vai... fica
E o corpo dança. Dança, dança; sem medo, medo ou espaço certo
Ouvindo imagens
Vendo o barulho das águas de Oxum
Sem Foucault, Thompson ou Bourdieu
Livre disso,
Dos dias.
Do corpo;
Preciso pensar mais sobre muita coisa;
(.)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Abstração

Quantos poderiam ser acordados?
Quantos poderiam deixar de dormir?
Quantos levantariam e colocariam os dedos em seus chinelos, abririam suas portas e deixariam ser tomados pela multidão de sonâmbulos ressentidos
De zumbis assombrosos sem medo da morte, mas com medo da vida
De gatos noturnos, olhares atentos e sete vidas para serem tiradas;
Vidas mesquinhas, apagadas, sorteadas em uma bilheteria, cujo prêmio- a existência- nunca fora dado. Invés disso, uma consolação: o papel de figurante, do homem-sanduiche, da manequim, do revendedor de sapatos, do morto, do jogado nas calçadas.
- Um grito é pouco
- Um livro é pouco
- Uma idéia é quase nada
Uma ideologia nem sempre sustenta. Vira memória depois; memória dos tempos, dos lapsos, das lutas, do cárcere, do conformismo e depois uma autobiografia, quase um livro de auto-ajuda, uma receita de bolo. Cujo título se insere: “Um intelectual de merda”, e vai ficar jogado na estante da pós-modernidade fedendo mijo e mofo.

Fragmento dos amores nos anos de solidão (do esplêndido García Márquez )


“A casa se encheu de amor. Aureliano expressou-o em versos que não tinham princípio nem fim. Escrevia-os nos ásperos pergaminhos que lhe dava Melquíades, nas paredes dos banheiros, na pele do seu braço, e em todos aparecia Remédios transfigurada: Remédios no ar soporífero das duas da tarde, Remédios na calada respiração das rosas, Remédios na clepsidra secreta das mariposas, Remédios no vapor do pão ao amanhecer. Remédios em todas as partes e Remédios para sempre. Rebeca esperava o amor às quatro da tarde, bordando junto a janela. Sabia que a mula do correio não chegava senão de quinze em quinze dias, mas a esperava sempre, convencida de que ia chegar um dia qualquer por engano. Aconteceu exatamente o contrário: uma vez a mula não chegou na data prevista. Louca de desespero, Rebeca se levantou a meia noite e comeu punhados de terra no jardim, com uma avidez suicida, chorando de dor e de fúria, mastigando minhocas macias e espedaçando os dentes nos cascos dos caracóis." (pág. 68).

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A santa Ceia!!


Descrença. Desilusão. Ver Viridiana me fez sentir uma imensa apatia que não havia sentido desde de Dogville. Não se trata apenas de uma perda da fé nos princípios religiosos, trata-se de uma total descrença no ser humano. Uma percepção de que não há como mudar as coisas e o melhor que se faz é aceitar a realidade e jogar cartas. A excessiva fé de Viridiana é decepada aos pedaços. Tudo começa com a visita feita a seu tio as vésperas de se tornar freira e este declara após dias de hostilidade da visitante que era apaixonado pela mesma e que desejaria desposá-la. A noviça se escandaliza e anuncia o seu regresso ao convento. O tio envolvido pela loucura de achar a moça parecida com sua falecida esposa a pede um ultima desejo antes que parta. Viridiana cede ao pedido de usar o vestido de casamento que fora de sua tia, é enganada pelo tio que coloca sonífero na sua bebida. No amanhecer do dia o tio usa a justificativa que deflorá-la durante a noite para tentar convencê-la a deixar o convento; o que não fora feito. O segundo choque vem com a notícia do suicídio de seu tio. É dispensada do convento e obrigada a morar na casa do falecido. Fervorosa e devota como sempre leva para morar consigo diversos mendigos como ato de caridade. Dá-lhes de comer, lugar para dormir ao lado de sua casa e algumas atividades para ocuparem o tempo ocioso. Sente-se realizada e é bastante adorada pelos hóspedes. Contudo, numa noite em que se ausentara com seu primo e a empregada a mansão é invadida pelos mendigos, que fazem uma verdadeira festa, como nunca tiveram antes, uma grande celebração: a última ceia! Assim como pintado por Da Vince a última ceia de Jesus e seus discípulos, Buñuel soube fotografar perfeitamente a última ceia dos miseráveis, tendo o mendigo cego no centro da mesa. Sem dúvida nenhuma essa é a melhor parte do filme e a mais crítica. Ao retornarem para a casa, Viridiana e seu primo se deparam com o verdadeiro horror, os miseráveis se banhando aos vinhos caros,a sujeira e asperidade tomando conta do ambiente. O primo é espancado e ela violentada. Perde por completo sua fé. A última cena mostra perfeitamente isso. A ida ao quarto do primo bastardo que tentou a seduzir durante tanto tempo, é demonstração de sua desilusão e a vontade do “pecado”. O jogo de cartas finaliza a banalização completa, onde o sedutor se depara entre os olhares da prima e da amante, e jogam cartas. Esse pessimismo e conformismo de Buñuel diante da realidade me deixaram um tanto confusa. Não foi ele mesmo quem disse que o artista não poderia se conformar diante da realidade demonstrando isso em sua obra? Fica a margem para essa reflexão... (depois termino esse texto)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ode à Insônia


Sim ou Não? O talvez corre incerto aumentando a indecisão na madrugada sórdida banhada por um relógio que não para de triturar as horas.

A Fome e o medo. Neles o orgulho se completa. A incoerência e a inocência de algo predisposto e sem sentido. A madrugada é longa e o sol ao nascer parece quadrado.

A busca pelos chinelos não encontrados. A treva que entra pela janela vence a luz da lâmpada. As pernas não são suas, e o que se sente é o cheiro de um cadáver inerte em um necrotério.

Pus, gaze, algodão, petróleo. O lunático está em nós, é algo inevitável. E o balde enche cada vez mais de pus, gaze, algodão e petróleo.

O sangue espuma, o colorido rouco pouco quase canto é oprimido pelos pés ligeiros da menina que andava para trás a procura do recanto do diabo.

Fascismo por conveniência, a bandeira não balança, nem o sino da igreja é ouvido tocar, pondo um fim a um sonho comunista.

O olho nem olha, subjuga. E o outro olho olha, e pede.

- Não se preocupe meu querido, o preto será condenado! Não há dúvidas.

A criança apanha. Apanha pelo sangue que herdara. A mãe chora, chora remorso, mágoa, raiva, incompreensão. O pecado vem... Torto e com cheiro de vingança, mas só fica plano dos pensamentos.

Pobre diabo, criatura das cavernas, homem paleolítico.

- Cretino, Canalha, Patife. (O sorriso amargo no canto da boca)

SER. Ser. Ser preciso, superar é preciso. Planejar, planejar, ser grandioso, o meu nome nas vitrines. (COLERA!!!)

- O silêncio é um burburinho confuso.

Ópera de gritos surdos de Graciliano

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010