Nossa, que chato! Mais uma feminista inflamada?
Apois, ouvir é a melhor coisa que a gente pode fazer como gente, principalmente
ouvir as falas dos lugares sociais minoritários (apesar de serem sempre a
maioria). Estou abordando as relações heteronormativas e trago alguns pontos para
serem discorridos, que podem até parecer óbvios demais, mas diante de tanta coisa
que a gente ouve, vê ou vivencia, é bom falar!
1 º NÃO EXISTE EM TERMOS BIOLÓGICOS OU CAPACIDADE
COGNITIVA DIFERENÇAS ENTRE HOMENS E MULHERES:
Assim como não existe entre os seres humanos. O que
existe são diferentes lugares de fala, silenciamento, diferentes oportunidades
de acesso e de representação nos espaços sociais. ok, ok.
2º NÃO É "NATURAL" O LUGAR HISTÓRICO DE
SUBMISSÃO ATRIBUÍDO ÀS MULHERES
Historicamente falando: há séculos que nossa
sociedade ocidental vive sob a égide patriarcal (isso é, homens exercem mais
poderes do que as mulheres e inclusive sobre elas). Isso, a gente poderia
chamar de um problema histórico, como também diversas outras formas de opressão
recorrentes em nossa sociedade. Ou seja, é um problema estrutural, que afeta em
diversos setores da vida e na participação social das mulheres. Não é algo
normal, nem interessante, a não ser para aqueles que desejam a manutenção o
"ordem" estruturada.
3º IGUALDADE DE DIREITO É DIFERENTE DE A IGUALDADE
DE OPORTUNIDADE
Você poder até filosofar sobre a igualdade, e
a necessidade política de buscá-la, mas tem que levar em consideração a
conjuntura política e histórica que favorece determinados grupos sociais em
relação a outros. Não podemos deixar de levar em consideração os avanços da
participação das mulheres nos diversos espaços políticos, científicos, no
mercado de trabalho, etc. A autonomia financeira e intelectual é algo muito
positivo para liberdade feminina, mas ela não garante uma libertação completa nas
relações interpessoais e estruturais do machismo.
4º COMODIDADE: pode ser lido também por "ta
tão bom na sombra e água fresca, pra que falar de calor?"
Esse é o poder exercido cotidianamente pelos e que é naturalizado. Vamos para um exemplo: você é homem e tem
um relacionamento "serio" com uma mulher, ou seja vocês tem um
contrato (simbólico) sobre a relação de vocês, se amam e se bastam, por
exemplo. "Traição é traição já dizia a música"... Mas isso não te
impede de você desfrutar de sua liberdade de ter relações pontuais com outras
pessoas, só um "sexo casual", “afinal ninguém é de ferro né?” “Tem
que aproveitar os mementos”. Concordo com a parte da liberdade (para ambos).
Mas, ai vem a pergunta: mas se fosse a sua namorada nessa situação? ficando
com outros caras? Repentinamente, vem as respostas:
"Não!”, “Pode não!”, Nem imagino". E porque não
pode? Você não acredita na igualdade entre seres humanos, amigo? E por
que coibir as necessidades pessoais de sua companheira? Ou subestimá-las?
Ouçam: mulheres podem também sentir tesão por outras pessoas que não seja seus
companheiros, inclusive outras mulheres (olha o perigo...rsrs). Mulheres
possuem vida própria para além de suas relações afetivas. O problema é que
somos treinadas a se domesticar, a ficarmos caladas e aceitar a situação como
está, e muitas não tem nem oportunidade de se questionar porque vivem tão
imersas em suas realidades aflitivas cotidianas, com dupla, trilha jornadas de
trabalho que vivem silenciadas dentro de suas casas.
5º NÓS NÃO SOMOS SUAS MÃES:
mães gestam nove meses em média, parem e tem a total responsabilidade (assim
como o pai deve ter) sobre a vida de um serzinho que depende deles até ter autonomia. Então, sua companheira não precisa nem deve assumir as suas demandas
pessoais necessárias à sobrevivência, aquelas funções que sua mãe exerceu por
você (infelizmente, muitas vezes até muito mais tempo que o necessário), por
conta dessa conjuntura naturalizada em que vivemos. Acho que isso é um
ponto superado, né? Mas é bom repetir.
6º "AMOR LIVRE" COMO APROPRIAÇÃO MASCULINA
É Linda a filosofia da liberdade amorosa, do
respeito à alteridade afetiva dos seres, "o seu amor, ame e deixe-o livre
para amar", acredito nessa perspectiva de liberdade, mas o problema aqui é
que esse discurso do poliamor e "amor livre" está sendo apropriado
pelos homens para manutenção do seu lugar de poder, ainda com a justificativa
poética da liberdade dos seres. Mas quando você observa de perto, na maioria
dos casos, só sabe dessa liberdade ele mesmo e as garotas que ele pretende
conquistas com esse discurso bonito. As justificativas são desde: "eu
falo, ela que não quer ficar com ninguém" ou então "ela
vai não vai aceitar". Situação essa que não resolve a situação de
opressão das mulheres, só camufla e dá um respaldo para os homens se sentirem
melhor em relação as suas ações.
7º RESPEITO À SUBJETIVIDADE FEMININA
Somos um
universo vasto, com diferentes criações e acessos, diferenças sociais
(Inclusive mesmo dentro da mesma escala social temos diversos demarcadores que
nos diferenciam uma das outras). É Importante respeitar os diversos lugares de
fala, eu to no meu lugar de fala de uma mulher branca cisgenero, que não sofre
uma serie de opressões que outras mulheres negras, trans, etc. sofrem, por
exemplo. Então, existem vários graus de opressão, dos mais densos e mais
simbólicos e preciso compreender como é difícil se libertar dessa condição de
oprimida pelos diversos fatores, as vezes materiais (quando uma mulher pobre
depende da renda familiar do marido porque tem que lidar com todo trabalho
doméstico não remunerado), afetivos e psicológicos (relacionados muitas vezes a
dependência emocional e crença cultural que precisa de um “homem” pra se sentir
bem). As fragilidades são múltiplas, e os abusos são diversos. Então, observe,
de que forma você estimula e alimenta esse tipo de relação.
8° A CULPA NUNCA É DA VÍTIMA
Discurso recorrente pra justificar machismo
declarando que as mulheres também são. REPITA COMIGO: mulheres não são
machistas, elas reproduzem o machismo. E isso vale para qualquer relação de
poder desigual. Ou seja, ninguém se pune pela condição social em total estado
de consciência, ou deseja ser oprimido. Essas pessoas só reproduzem uma lógica
social vigente e não se beneficiam nessa dinâmica. Então, como a mulher não
pode se beneficiar dessa prática, sendo contraditória a sua própria existência
humana, que usamos o termo reprodução. Ok?
9° DESCONSTRUÇÃO
É preciso! É importante para a evolução do ser que
anseia pela igualdade e o amor. Pois, é muito fácil falar da nossa estrutura
social opressora, assumir até papeis de militância dentro e fora da
universidade, mas não se perceber no cotidiano, quais as relações de micropoder
que estabelece com suas companheiras, namoradas, paqueras, enfim, qualquer tipo
de relação estabelecida. DESCONSTRUIR não é dizer teoricamente
dos autores que você acredita, nem para aparecer mais interessante para as
feministas. Mas, um processo contínuo de autoanalise, de se perceber
enquanto pessoa, observe o seu lugar e buscar melhorar suas práticas,
ouvir, ouvir, ouvir mais um pouco, quem sabe... É difícil? Sim é difícil pra
caralho, porque tem um monte de homem que não ta nem aí, que não vai ter a
mesma paciência de ler como a que eu tive de escrever esse texto. Acredito,
apesar do contexto, na mudança de mentalidades, ela é leeeeenta, muito lenta, lentíssima, mas...Ta acontecendo. FALAR (das opressões) é
preciso OUVIR (tentar entender e respeitar) mais ainda. Se é
difícil pra vocês homens, imagine pra nós mulheres...