segunda-feira, 10 de julho de 2017

EU VOU FALAR SOBRE MACHISMO

Nossa, que chato! Mais uma feminista inflamada? Apois, ouvir é a melhor coisa que a gente pode fazer como gente, principalmente ouvir as falas dos lugares sociais minoritários (apesar de serem sempre a maioria). Estou abordando as relações heteronormativas e trago alguns pontos para serem discorridos, que podem até parecer óbvios demais, mas diante de tanta coisa que a gente ouve, vê ou vivencia, é bom falar!

1 º NÃO EXISTE EM TERMOS BIOLÓGICOS OU CAPACIDADE COGNITIVA DIFERENÇAS ENTRE HOMENS E MULHERES:
Assim como não existe entre os seres humanos. O que existe são diferentes lugares de fala, silenciamento, diferentes oportunidades de acesso e de representação nos espaços sociais. ok, ok.


2º NÃO É "NATURAL" O LUGAR HISTÓRICO DE SUBMISSÃO ATRIBUÍDO ÀS MULHERES
Historicamente falando: há séculos que nossa sociedade ocidental vive sob a égide patriarcal (isso é, homens exercem mais poderes do que as mulheres e inclusive sobre elas). Isso, a gente poderia chamar de um problema histórico, como também diversas outras formas de opressão recorrentes em nossa sociedade. Ou seja, é um problema estrutural, que afeta em diversos setores da vida e na participação social das mulheres. Não é algo normal, nem interessante, a não ser para aqueles que desejam a manutenção o "ordem" estruturada.


3º IGUALDADE DE DIREITO É DIFERENTE DE A IGUALDADE DE OPORTUNIDADE
 Você poder até filosofar sobre a igualdade, e a necessidade política de buscá-la, mas tem que levar em consideração a conjuntura política e histórica que favorece determinados grupos sociais em relação a outros. Não podemos deixar de levar em consideração os avanços da participação das mulheres nos diversos espaços políticos, científicos, no mercado de trabalho, etc. A autonomia financeira e intelectual é algo muito positivo para liberdade feminina, mas ela não garante uma libertação completa nas relações interpessoais e estruturais do machismo.

4º COMODIDADE: pode ser lido também por "ta tão bom na sombra e água fresca, pra que falar de calor?" 
Esse é o poder exercido cotidianamente pelos e que é naturalizado. Vamos para um exemplo: você é homem e tem um relacionamento "serio" com uma mulher, ou seja vocês tem um contrato (simbólico) sobre a relação de vocês, se amam e se bastam, por exemplo. "Traição é traição já dizia a música"... Mas isso não te impede de você desfrutar de sua liberdade de ter relações pontuais com outras pessoas, só um "sexo casual", “afinal ninguém é de ferro né?” “Tem que aproveitar os mementos”. Concordo com a parte da liberdade (para ambos). Mas, ai vem a pergunta: mas se fosse a sua namorada nessa situação? ficando com outros caras? Repentinamente, vem as respostas: "Não!”,  “Pode não!”, Nem imagino". E porque não pode? Você não acredita na igualdade entre seres humanos, amigo? E por que coibir as necessidades pessoais de sua companheira? Ou subestimá-las? Ouçam: mulheres podem também sentir tesão por outras pessoas que não seja seus companheiros, inclusive outras mulheres (olha o perigo...rsrs). Mulheres possuem vida própria para além de suas relações afetivas. O problema é que somos treinadas a se domesticar, a ficarmos caladas e aceitar a situação como está, e muitas não tem nem oportunidade de se questionar porque vivem tão imersas em suas realidades aflitivas cotidianas, com dupla, trilha jornadas de trabalho que vivem silenciadas dentro de suas casas.

5º NÓS NÃO SOMOS SUAS MÃES: mães gestam nove meses em média, parem e tem a total responsabilidade (assim como o pai deve ter) sobre a vida de um serzinho que depende deles até ter autonomia. Então, sua companheira não precisa nem deve assumir as suas demandas pessoais necessárias à sobrevivência, aquelas funções que sua mãe exerceu por você (infelizmente, muitas vezes até muito mais tempo que o necessário), por conta dessa conjuntura naturalizada em que vivemos. Acho que isso é um ponto superado, né? Mas é bom repetir.

6º "AMOR LIVRE" COMO APROPRIAÇÃO MASCULINA
É Linda a filosofia da liberdade amorosa, do respeito à alteridade afetiva dos seres, "o seu amor, ame e deixe-o livre para amar", acredito nessa perspectiva de liberdade, mas o problema aqui é que esse discurso do poliamor e "amor livre" está sendo apropriado pelos homens para manutenção do seu lugar de poder, ainda com a justificativa poética da liberdade dos seres. Mas quando você observa de perto, na maioria dos casos, só sabe dessa liberdade ele mesmo e as garotas que ele pretende conquistas com esse discurso bonito. As justificativas são desde: "eu falo, ela que não quer ficar com ninguém" ou então "ela vai não vai aceitar". Situação essa que não resolve a situação de opressão das mulheres, só camufla e dá um respaldo para os homens se sentirem melhor em relação as suas ações.

7º RESPEITO À SUBJETIVIDADE FEMININA
 Somos um universo vasto, com diferentes criações e acessos, diferenças sociais (Inclusive mesmo dentro da mesma escala social temos diversos demarcadores que nos diferenciam uma das outras). É Importante respeitar os diversos lugares de fala, eu to no meu lugar de fala de uma mulher branca cisgenero, que não sofre uma serie de opressões que outras mulheres negras, trans, etc. sofrem, por exemplo. Então, existem vários graus de opressão, dos mais densos e mais simbólicos e preciso compreender como é difícil se libertar dessa condição de oprimida pelos diversos fatores, as vezes materiais (quando uma mulher pobre depende da renda familiar do marido porque tem que lidar com todo trabalho doméstico não remunerado), afetivos e psicológicos (relacionados muitas vezes a dependência emocional e crença cultural que precisa de um “homem” pra se sentir bem). As fragilidades são múltiplas, e os abusos são diversos. Então, observe, de que forma você estimula e alimenta esse tipo de relação.

8° A CULPA NUNCA É DA VÍTIMA
Discurso recorrente pra justificar machismo declarando que as mulheres também são. REPITA COMIGO: mulheres não são machistas, elas reproduzem o machismo. E isso vale para qualquer relação de poder desigual. Ou seja, ninguém se pune pela condição social em total estado de consciência, ou deseja ser oprimido. Essas pessoas só reproduzem uma lógica social vigente e não se beneficiam nessa dinâmica. Então, como a mulher não pode se beneficiar dessa prática, sendo contraditória a sua própria existência humana, que usamos o termo reprodução. Ok?


9° DESCONSTRUÇÃO
É preciso! É importante para a evolução do ser que anseia pela igualdade e o amor. Pois, é muito fácil falar da nossa estrutura social opressora, assumir até papeis de militância dentro e fora da universidade, mas não se perceber no cotidiano, quais as relações de micropoder que estabelece com suas companheiras, namoradas, paqueras, enfim, qualquer tipo de relação estabelecida. DESCONSTRUIR não é dizer teoricamente dos autores que você acredita, nem para aparecer mais interessante para as feministas.  Mas, um processo contínuo de autoanalise, de se perceber enquanto pessoa, observe o seu lugar e buscar melhorar suas práticas, ouvir, ouvir, ouvir mais um pouco, quem sabe... É difícil? Sim é difícil pra caralho, porque tem um monte de homem que não ta nem aí, que não vai ter a mesma paciência de ler como a que eu tive de escrever esse texto. Acredito, apesar do contexto, na mudança de mentalidades, ela é leeeeenta, muito lenta, lentíssima, mas...Ta acontecendo. FALAR (das opressões) é preciso OUVIR (tentar entender e respeitar) mais ainda. Se é difícil pra vocês homens, imagine pra nós mulheres...