quarta-feira, 23 de março de 2011

Distração

Eu queria dizer uma coisa, mas por frações de segundos a coisa me escapuliu. Fiquei com a boca seca e as palavras soltas. Tenho tido estado num estado tão sereno que às vezes me da preguiça até de pensar. As pessoas têm mania de multiplicar os signos ou reduzi-los a poeira. Perdi meu espírito de análise psíquica das coisas; acho que ninguém tem que ser explicado; a explicação fragmenta, divide, subjuga, condena; é puro espaço de poder e controle sobre o outro. Tenho sonhado com coisas completamente desconexas, mas não estou preocupada em desvendar o sentido disso ou daqui no meu subconsciente, é perda de tempo, e não digo tempo demarcado cronologicamente pela lógica do mercado, digo tempo pra ta jogando gude e olhando distraidamente os movimentos que a palmeira de fora da janela do meu quarto faz quando o vento bate.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Um pouco de desperdício

Um papel pregado na parede com um aviso do dia anterior, talvez da semana anterior, não sei... Perdi-me nos dias não sei desde quando. As horas desconheço. Conheço os dias por uma fresta de luz que me invade por uma telha quebrada. A noite por essa ausência. O chão é frio, o ar é denso e está envolvido por uma fumaça uniforme que cheira a coisas passadas. Meu corpo se compadece do peso e da leveza que me prende ao chão. Meus movimentos são internos, no meu pensar, pulsar, existir. É no resgate do não vivido, do não-dito, do não escutado, do não expresso sentido, da ausência, do planejado, do não resolvido, do protelado, do interrompido... Minhas pálpebras forçam um movimento, o silêncio me consome.