segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A santa Ceia!!


Descrença. Desilusão. Ver Viridiana me fez sentir uma imensa apatia que não havia sentido desde de Dogville. Não se trata apenas de uma perda da fé nos princípios religiosos, trata-se de uma total descrença no ser humano. Uma percepção de que não há como mudar as coisas e o melhor que se faz é aceitar a realidade e jogar cartas. A excessiva fé de Viridiana é decepada aos pedaços. Tudo começa com a visita feita a seu tio as vésperas de se tornar freira e este declara após dias de hostilidade da visitante que era apaixonado pela mesma e que desejaria desposá-la. A noviça se escandaliza e anuncia o seu regresso ao convento. O tio envolvido pela loucura de achar a moça parecida com sua falecida esposa a pede um ultima desejo antes que parta. Viridiana cede ao pedido de usar o vestido de casamento que fora de sua tia, é enganada pelo tio que coloca sonífero na sua bebida. No amanhecer do dia o tio usa a justificativa que deflorá-la durante a noite para tentar convencê-la a deixar o convento; o que não fora feito. O segundo choque vem com a notícia do suicídio de seu tio. É dispensada do convento e obrigada a morar na casa do falecido. Fervorosa e devota como sempre leva para morar consigo diversos mendigos como ato de caridade. Dá-lhes de comer, lugar para dormir ao lado de sua casa e algumas atividades para ocuparem o tempo ocioso. Sente-se realizada e é bastante adorada pelos hóspedes. Contudo, numa noite em que se ausentara com seu primo e a empregada a mansão é invadida pelos mendigos, que fazem uma verdadeira festa, como nunca tiveram antes, uma grande celebração: a última ceia! Assim como pintado por Da Vince a última ceia de Jesus e seus discípulos, Buñuel soube fotografar perfeitamente a última ceia dos miseráveis, tendo o mendigo cego no centro da mesa. Sem dúvida nenhuma essa é a melhor parte do filme e a mais crítica. Ao retornarem para a casa, Viridiana e seu primo se deparam com o verdadeiro horror, os miseráveis se banhando aos vinhos caros,a sujeira e asperidade tomando conta do ambiente. O primo é espancado e ela violentada. Perde por completo sua fé. A última cena mostra perfeitamente isso. A ida ao quarto do primo bastardo que tentou a seduzir durante tanto tempo, é demonstração de sua desilusão e a vontade do “pecado”. O jogo de cartas finaliza a banalização completa, onde o sedutor se depara entre os olhares da prima e da amante, e jogam cartas. Esse pessimismo e conformismo de Buñuel diante da realidade me deixaram um tanto confusa. Não foi ele mesmo quem disse que o artista não poderia se conformar diante da realidade demonstrando isso em sua obra? Fica a margem para essa reflexão... (depois termino esse texto)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ode à Insônia


Sim ou Não? O talvez corre incerto aumentando a indecisão na madrugada sórdida banhada por um relógio que não para de triturar as horas.

A Fome e o medo. Neles o orgulho se completa. A incoerência e a inocência de algo predisposto e sem sentido. A madrugada é longa e o sol ao nascer parece quadrado.

A busca pelos chinelos não encontrados. A treva que entra pela janela vence a luz da lâmpada. As pernas não são suas, e o que se sente é o cheiro de um cadáver inerte em um necrotério.

Pus, gaze, algodão, petróleo. O lunático está em nós, é algo inevitável. E o balde enche cada vez mais de pus, gaze, algodão e petróleo.

O sangue espuma, o colorido rouco pouco quase canto é oprimido pelos pés ligeiros da menina que andava para trás a procura do recanto do diabo.

Fascismo por conveniência, a bandeira não balança, nem o sino da igreja é ouvido tocar, pondo um fim a um sonho comunista.

O olho nem olha, subjuga. E o outro olho olha, e pede.

- Não se preocupe meu querido, o preto será condenado! Não há dúvidas.

A criança apanha. Apanha pelo sangue que herdara. A mãe chora, chora remorso, mágoa, raiva, incompreensão. O pecado vem... Torto e com cheiro de vingança, mas só fica plano dos pensamentos.

Pobre diabo, criatura das cavernas, homem paleolítico.

- Cretino, Canalha, Patife. (O sorriso amargo no canto da boca)

SER. Ser. Ser preciso, superar é preciso. Planejar, planejar, ser grandioso, o meu nome nas vitrines. (COLERA!!!)

- O silêncio é um burburinho confuso.

Ópera de gritos surdos de Graciliano