quarta-feira, 2 de maio de 2018

Desaprivinição


Apois, me diga
se pode haver
estado mais patológico
do que o apaixonado ser?

Dá primeiro problema de visão,
escurece toda a vista
que só vê um clarão
nos zói do outro lado.

Segue dos ouvido
que atina aos sons dos pássaros
e das canções mais besta do rádio

Uma perda parcial da voz
Quando não acompanhada
de pausas e gagueiras

Falta de apetite
por apatia
ou excesso de fome
por ansiedade

Tal qual,
batimentos cardíacos acelerados
dependendo da proximidade
do ser admirado

Um frio na barriga
 (Ave Maria)
às vezes acompanhado de calor

Calor...
Nas partes íntimas,
como pode se dizer,
constante quentura e umidade

Pernas se apressam
a passos de corrida,
a noção de tempo e espaço
parece tá desmedida

Ao passo que de perto
parece acelerado,
e quando tá longe
é tudo ao contrário

É devagar...
Ô tempo que não passa...
Parece que nunca chega a noite,
nem clareia o dia

As mão fica buliçosa
Vire e mexe,
aqui e acolá
Entre caneta e papel,
entre mão e corpo

O juízo atrapalhado
ri de besteira,
chora por ausência,
passeia calado

Viaja entre o real e o imaginário,
entre o que não existe
e o que pode ser provável

Mente pra si mesmo
acredita na verdade que disse
e segue...

Apostando a vista
que o amor ampare
o ser adoentado

E melhore os sintomas de atordoamento
e que o tempo trate do resto
De deixar menos difícil os dias
e mais alegre os verso

De ver beleza com toda simplicidade
de cada um que oferece
o seu eu sem a propriedade
de ser latifúndio ou coisa parecida

Mas roça sem cerca
que chega
vai, volta
se assim for desejo comum permitido

Arma acampamento
solidifica a base
Se arma de foice, facão, enxada:
ao plantio

Que há de chover
E ainda na fé
há de colher as frutas mais doces
E as flores mais cheirosas entre os cactos e espinhos
nesse ser (tão) catingueiro.