quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Visita


Luz de tarde cintilante
Ouço meu nome
E me corro a porta
Buscando desvendar o som

- é tu cumadre?! Mas que milagre é esse?
Ela silenciosa me abraça
E depois de alguns minutos me diz
- saudade

Eu, depois de um tempo
Sentindo seu coração vasto dentro do meu
Digo
- também

Esse sem tempo feito
Se desfez ao fim do abraço
E logo chamei pra dentro
- quer água?

As aguas de beber
As de lavar
De tantas aguas passadas
Levamos a sede

E a fala diz
das alegrias, diz pouco silêncio
(como que com medo de perder o momento das palavras)
Diz histórias por inteiro
Outras pela metade
Outras nem sei porque
Só são ditas
E perdidas entre tantas outras contações

E diz mais
- você some
Ela diz mais
- você também

Eu aceito de bom grado
Prefiro deixar ela acreditar que sim
Porque sua presença me faz sentir
Que todo outro tempo é outro

Ela desliza em conversa
E eu escorrego até que caio no povir
Do boa noite que estendeu-se ao lá vai

E lá vai ela
Quando vou vê-la
Sabe-se lá
Maria vem e vai

Vai e se estende
Se tece, se encasula
Mata, morre, renasce
E as vezes pousa voo aqui

Dos lapsos de tempo
Nascem as narrativas sobre amor e saudade
Que são da memória do que nem foi
Tão pouco é
Por isso é tanto

Avesso



No que me apego me apego
No esfomeado laço
que já deu um nó

ao passo que me disperso
em perdidos versos me acho
faço do difícil fácil
e me refaço só