sábado, 22 de maio de 2010

Crise de per(curso)

Uma busca suja do que se seria completar
Uma fuga burra do que se pensa ser,
contemplar.
Os dias-
-O corpo
Só os artistas são felizes, mesmo na dor, na merda, na agonia, são felizes
São.
E eu só; na busca oceânica do [de] me reconhecer. Só as vezes. A criança se esvai de mim. Id fica;
O resto. O resto são dias; dever. porvir, o indo sendo/será?
Porra de amarras que não me deixam saltar, pular, me jogar de vez, ver; morrer; morte do feito. O por fazer vai... fica
E o corpo dança. Dança, dança; sem medo, medo ou espaço certo
Ouvindo imagens
Vendo o barulho das águas de Oxum
Sem Foucault, Thompson ou Bourdieu
Livre disso,
Dos dias.
Do corpo;
Preciso pensar mais sobre muita coisa;
(.)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Abstração

Quantos poderiam ser acordados?
Quantos poderiam deixar de dormir?
Quantos levantariam e colocariam os dedos em seus chinelos, abririam suas portas e deixariam ser tomados pela multidão de sonâmbulos ressentidos
De zumbis assombrosos sem medo da morte, mas com medo da vida
De gatos noturnos, olhares atentos e sete vidas para serem tiradas;
Vidas mesquinhas, apagadas, sorteadas em uma bilheteria, cujo prêmio- a existência- nunca fora dado. Invés disso, uma consolação: o papel de figurante, do homem-sanduiche, da manequim, do revendedor de sapatos, do morto, do jogado nas calçadas.
- Um grito é pouco
- Um livro é pouco
- Uma idéia é quase nada
Uma ideologia nem sempre sustenta. Vira memória depois; memória dos tempos, dos lapsos, das lutas, do cárcere, do conformismo e depois uma autobiografia, quase um livro de auto-ajuda, uma receita de bolo. Cujo título se insere: “Um intelectual de merda”, e vai ficar jogado na estante da pós-modernidade fedendo mijo e mofo.

Fragmento dos amores nos anos de solidão (do esplêndido García Márquez )


“A casa se encheu de amor. Aureliano expressou-o em versos que não tinham princípio nem fim. Escrevia-os nos ásperos pergaminhos que lhe dava Melquíades, nas paredes dos banheiros, na pele do seu braço, e em todos aparecia Remédios transfigurada: Remédios no ar soporífero das duas da tarde, Remédios na calada respiração das rosas, Remédios na clepsidra secreta das mariposas, Remédios no vapor do pão ao amanhecer. Remédios em todas as partes e Remédios para sempre. Rebeca esperava o amor às quatro da tarde, bordando junto a janela. Sabia que a mula do correio não chegava senão de quinze em quinze dias, mas a esperava sempre, convencida de que ia chegar um dia qualquer por engano. Aconteceu exatamente o contrário: uma vez a mula não chegou na data prevista. Louca de desespero, Rebeca se levantou a meia noite e comeu punhados de terra no jardim, com uma avidez suicida, chorando de dor e de fúria, mastigando minhocas macias e espedaçando os dentes nos cascos dos caracóis." (pág. 68).