domingo, 10 de maio de 2020

Afeto


Teus olhos me acobertam
Por inteiro
Quando não te vejo
Estás a me olhar

Teu zelo rege o ato
Do subterrâneo
Tá no minucioso cotidiano
Que não chega a tocar

O afago ficou em algum lugar da memória
Que não tinha idade
Pra fazer registro
Mas o tempo não se dava disso

Corria tão bruto
entre as águas e o fogo
pairava em poeira
mas nunca parava

Descabia também
o afeto das palavras
ouvia-se pouco
pouco se falava

Mas sobre a presença?
É, e sempre foi
Intangível à palavra
Indizível e transluzente.

Presença


O que tenho pra reclamar
dessa manhã que entra pela janela traçando luz e sombra
das árvores vizinhas?

As galhas dançam
ao sopro dos ventos
Embaladas, ao mesmo tempo
pelos pássaros a cantar

Eu sentada em um chão
tão fresco
e as mãos tão quentes de um copo de café

Que assopro feito vento
O vapor que encobre minha face
O cheiro me invade antes do sabor

Demandei tempo pra entender que o sabor da vida tá na presença de saboreá-la
C-O-N-S-T-A-N-T-E-M-E-N-T-E