quarta-feira, 5 de agosto de 2020


Ela descalçava os pés como um passarinho que se banha ao beber água.
Pisava o chão como quem queria capturar
Para além da imagem
O sentido
Porque pés calçados não sentem
E pra passarinho beber água é pouco, quando ele pode se banhar por inteiro.
E eu tão só vendo o deslizar
de calçado na calçada
Passaria a tarde toda
Vendo nela passarinho
E meu amor a passarada.

Fotografia do vídeo poema Derramamento/cura de Victória Nasck

sábado, 1 de agosto de 2020

Toda Noite

Toda noite
Antes que se apague
Eu me afago
Afundo os travesseiros
Inspiro teu cheiro
Suspiro fundo
E sussurro tudo aquilo que queria te dizer
Toda noite

Madura

Tal fruta
Doce
No tempo certo
De(vez) me arrancou
Cedi sem queda
à mão leve

Suco
Lento
Sabor

Derrama em mim
Tua saliva
Lábios macios
E língua ardente

Me devora
Sem pressa
Pra que dentro de ti
Eu possa fazer morada

Sem tamanho

Enquanto eu alvoroço
A menina cresce
Quanto menos peso de mim
envelheço
Mais a criança tece

Alargando
Desmedida e
fora do alcance

Atravessamentos

Me aquece
Desfrutar de cada ser
que me despe da pressa
Me toca aos sentidos
E me inunda com a presença

Pois prazer
está para além
de um ato
e um fim

É um estado
Sem desperdício
Constantemente fluido

Desterrotorializado

Estado de espírito
Espelhado
Me vejo mais
Dentro
Esvai fora
Reflete
Irradia
Volta
Retroalimenta
Gira
Em ciranda,
Feito criança
Não para de crescer