terça-feira, 31 de agosto de 2010

Viva o progresso!!!!


Gostaria de relatar um trabalho científico que encontrei no Biotério Central da UEFS, que se utiliza de experiência com ratos.
A princípio não sabia do que se tratava o Biotério, só sabia que era do Departamento de Biologia e estavam precisando de uma estagiária. Como eu estava precisando de dinheiro, concorri à vaga e fui selecionada mesmo sendo do curso de História. Quando descobri que era um espaço reservado para criação e experimentação com ratos pensei em imediatamente desistir, mas acabei por me convencer que seria uma boa experiência e que rejeitar não seria melhor opção.
Na experiência relatada nesse primeiro trabalho, é observado o comportamento de ratos com o uso de Diazepan (comercializado pelo laboratório Roche no Brasil com o nome de Valium) é fármaco pertencente a família dos benzodiazepínicos. É um pó cristalino, heterocíclico, usado como ansiolítico, anticonvulsivante, sedativo e relaxante muscular -(Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre).

O texto introdutório ao trabalho fala sobre os avanços científicos dos últimos séculos devido ao uso de animais como cobaias, principalmente depois do surgimento da Genética no século passado. Ressalta sobre a importância do modelo experimental em camundongos, como todo e qualquer trabalho desse tipo que justificam o uso por serem animais de pequeno porte, assim de fácil manuseio, por se reproduzirem rapidamente e por apresentar reações orgânicas “semelhantes” aos dos seres humanos.

O material utilizado na experiência: 10 camundongos (isso mesmo, material, não vidas...), 2 gaiolas, 2 bebedouros, seringas 1 ML, luvas

O método: separadas em duas gaiolas são devidamente alimentados com ração e água (muita generosidade), antes de ser injetado o medicamento. O Diazepan é um calmante por isso o indivíduo precisa apresentar o quadro de estresse. Então foi preciso estressar os animais antes da aplicação do calmante. Aumenta-se a temperatura de 21° (temperatura ideal para os animais) para 25° graus (temperatura ambiente), causando desconforto e agitação entre os camundongos, então é aplicado o medicamento que em cerca de dois minutos faz efeito, deixando os animais sonolentos e sedados. Essa mesma experiência foi feita durante 3 semanas para perceber a freqüência das reações, sendo aplicado 1 ML de Diazepan por dia (excluindo os sábados e domingos).
Resultados: Depois que o efeito do Diazepan passava os animais continuavam agitados e eufóricos, a ponto de brigarem e sobreviver apenas o mais forte da gaiola.
A conclusão da experiência é mostrar os efeitos adversos do medicamento que pode causar nos seres humanos.
Agora eu pergunto: isso já não é algo dado pela comunidade científica? Não é um medicamento vendido apenas com prescrição médica? Não se tem algum trabalho relacionado as substâncias contidas no medicamento e os danos que causam aos organismos?

Quase todos os medicamentos e produtos diversos que nós utilizamos no nosso cotidiano foram de alguma forma testada em animais, para perceber reações e funcionalidade. Isso pode ser justificado na melhoria da qualidade de vida e no especismo de que não podemos utilizar o ser humano em pesquisas experimentais. Eu gostaria de questionar a comunidade científica da validade dessas experiências ainda hoje, como os absurdos que acontece com dissecação de animais em aulas práticas em muitas universidades, ou pela curiosidade de certos indivíduos em repetir experiências registradas em vídeos e em trabalhos científicos reconhecidos pelo meio acadêmicos. Acontece na verdade uma banalização do uso do animal, que se torna muitas vezes apenas um objeto de curiosidade de iniciantes nas áreas das ciências biológicas, odontológicas, etc.
Esses dias tenho visto a dificuldade imensa de se distanciar dessa realidade, é na verdade uma cadeia onde todos tiramos proveito. Todos nós somos especistas, uns mais outros menos. Somos especistas ao desfrutar dos tantos avanços tecnológicos que deram cabo da vida de milhares de vidas de camundongos, gatos, cachorros, chipanzés, coelhos, etc. todos somos vítimas e culpados nesse mecanismo de naturalizar as coisas, de dar valores determinados ao que nos interessa, de banalizar a morte quando conveniente.
É engraçado porque se fala tanto em vida no meio dito “ético” e científico da sociedade que chegamos a conclusão que vida na verdade significa “vida do ser humano”, aliás “vida de certos seres humanos privilegiados”, dentro do próprio especismo criamos cadeias do que valores de vida, “minha vida tem mais valor do que a de um gato que tenho em casa que por conseguinte é mais importante do que a do rato aqui do Biotério” , mas com certeza a vida de um estudante de medicina dessa universidade é mais importante do que a minha, uma simples estudante de História.
Enquanto digito isso, tem centenas de Ratos Wistar na sala ao lado (que só cheira a Amônia) esperando o grandioso dia se tornarem mártir em prol da comunidade científica e do “progresso da humanidade”.
(...)

domingo, 1 de agosto de 2010

Domingo a noite

Ocorreu-me essa noite o cheiro de coisas estranhas. A luminosidade latente causou-me asco, e não foi pelo astigmatismo que me consome, mas pela necessidade do escuro, de fechar os olhos e não ver ninguém. Os vultos de pessoas passavam, as mulheres dançavam, e eu não conseguia nem se quer apreciar os movimentos dos seus corpos suculentos. Fiquei irritada, senti vontade de sentar, não pela dor nas pernas, mas pela preguiça de ficar em pé. Sentei, e por incrível que pareça não veio pensamento nenhum, nada. Nem as imagens figuravam, nem eu desfigurava coisa alguma. O som até que não me desagradava, mas percebi que o ambiente não me pertencia. Pouco me interessava saber quem era aquele homem que estava mais distante, debaixo daquela árvore e me olhando. Não lhe negava olhares também, mas olhava por assim dizer, como uma forma de distração e abstração, talvez. Fora do espaço, uma vontade louca de voltar pra casa. De súbito, sem mas nem porque desci a Getúlio Vargas correndo a caminho do terminal; sabia que não daria tempo de pegar o UEFS Sobradinho, mas senti uma vontade de correr, e o fiz como desculpa. Mesmo sentada, sem companhia, não conseguia imaginar muita coisa, só repetia frases que havia ouvido mais cedo, de alguém que sabe se lá o que, ou porque havia me dito “você não vai embora”. Achei autoritário, vazio, tanto quanto seus olhos. Corri por preguiça de me despedir, de dizer “tchau” ou “depois a gente se ver”; coisa do tipo, que tenta significar alguma coisa, mas por fim são só mais delongas. Ainda bem que o UEFS Maria Quitéria veio antes do que qualquer pensamento bobo brotasse na minha cabeça.
Aplausos aos meus grandes companheiros da noite: Marron, Branco e Sariguê