terça-feira, 19 de setembro de 2017

Pão e carne



Da inspiração da poesia que vem
de uma frase, um dito ouvido
de verborragia de pensamentos
fugidos.

Que só se cala no papel,
na letra embaralhada
que se desdobra
até que a mente sossegue,
até que o sono chegue,
até que o ponto se insinue satisfeito.

Do dito ouvido e repetido
pela mãe, pelo pai,
ancião e anciã
de que “pão se compra em padaria e carne em açougue”

Aí fico pensando...
Que busco pão em açougue
e carne em padaria por diversas vezes,
e que não acho coisa alguma.

Que fico no tato,
ao invés de ver e ouvir
Que bebo água salgada
por gostar de (a)mar profundo

Que me despentelho
por mais pelo
ou pelo não ter
elo

Sei lá se quero pão ou carne
Minha fome é de tanta coisa
Ou sei lá... penso que poderia ter uma seção
de pães com carne no açougue

Mas a ideia é xeque!
Eu brinco com as palavras,
mas concordo
porque amanhã trabalho cedo

E a vida tá difícil pra todo mundo
que tem que comprar pão na padaria
e carne no açougue
a base do suor do dia

Por mais dos trocadilhos pra vida,
das confusões e inconclusões de assuntos
Assumo que não sou,
como dizer...
Tão dada às medidas certas
de acreditar que só tem pão na padaria...

Ah! Antes não tivesse pão nem carne!
Mas amanhã é dia!
Se não achar pão nem carne,
como o que tiver ou me resguardo no jejum

Pra saber que nem só
de pão e carne
vive todo ser humano,
mas de ditado, sim!

Conselho bom que diz uma vez só,
mas diz dez
Porque repetir é necessário
pra os que ouvem ao contrário

Porque parábola é exemplo
É sabedoria dos ancestrais
Da história de vida contada
de quem já viveu muito pra saber que:


“Carne se busca em açougue e pão em padaria”

Brincadeira


Eu me alimento de uma tempestade em um copo d’agua

De um sol luminoso
em uma pequena fresta
que corre a porta,
na réstia do dia.

De uma imaginação infantil

Que se ri dos próprios devaneios,
mas que não hesita
em reconstruir paradeiros
da própria caminhada.

Sou tantas outras
peripécias,
meninices,
cicatrizes no joelho

Mas não deixo de brincar
Porque cair é preciso
para aprender a levantar
Correr de novo  me encantar com tantas outras coisas...

Tantas outras coisas

E dizer sim!
Que amor é vasto, tão nato
tão despontado de sentido,
tão despessoado e despossuído

Ruído, que vem dentro,
que ecoa em todas as formas,
mas que por desatenção
em certas maneiras...

Se decora
Se personaliza
Descaracteriza
E evapora

Mas tenho, sim, pensado na simplicidade das coisas
O amor é mais vasto que as prisões do ego
Tenho pensado que o amor
é um baba descalço domingo de manhã

São meninas e meninas
Todos se riem
Se riem
Brincam
Correm
Caem
Levantam
Se entendem
Se perdoam
Fantasiam

Tenho que dizer
que o amor tende a ser infantil
no sentido mais puro e nato
de ser.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

EU VOU FALAR SOBRE MACHISMO

Nossa, que chato! Mais uma feminista inflamada? Apois, ouvir é a melhor coisa que a gente pode fazer como gente, principalmente ouvir as falas dos lugares sociais minoritários (apesar de serem sempre a maioria). Estou abordando as relações heteronormativas e trago alguns pontos para serem discorridos, que podem até parecer óbvios demais, mas diante de tanta coisa que a gente ouve, vê ou vivencia, é bom falar!

1 º NÃO EXISTE EM TERMOS BIOLÓGICOS OU CAPACIDADE COGNITIVA DIFERENÇAS ENTRE HOMENS E MULHERES:
Assim como não existe entre os seres humanos. O que existe são diferentes lugares de fala, silenciamento, diferentes oportunidades de acesso e de representação nos espaços sociais. ok, ok.


2º NÃO É "NATURAL" O LUGAR HISTÓRICO DE SUBMISSÃO ATRIBUÍDO ÀS MULHERES
Historicamente falando: há séculos que nossa sociedade ocidental vive sob a égide patriarcal (isso é, homens exercem mais poderes do que as mulheres e inclusive sobre elas). Isso, a gente poderia chamar de um problema histórico, como também diversas outras formas de opressão recorrentes em nossa sociedade. Ou seja, é um problema estrutural, que afeta em diversos setores da vida e na participação social das mulheres. Não é algo normal, nem interessante, a não ser para aqueles que desejam a manutenção o "ordem" estruturada.


3º IGUALDADE DE DIREITO É DIFERENTE DE A IGUALDADE DE OPORTUNIDADE
 Você poder até filosofar sobre a igualdade, e a necessidade política de buscá-la, mas tem que levar em consideração a conjuntura política e histórica que favorece determinados grupos sociais em relação a outros. Não podemos deixar de levar em consideração os avanços da participação das mulheres nos diversos espaços políticos, científicos, no mercado de trabalho, etc. A autonomia financeira e intelectual é algo muito positivo para liberdade feminina, mas ela não garante uma libertação completa nas relações interpessoais e estruturais do machismo.

4º COMODIDADE: pode ser lido também por "ta tão bom na sombra e água fresca, pra que falar de calor?" 
Esse é o poder exercido cotidianamente pelos e que é naturalizado. Vamos para um exemplo: você é homem e tem um relacionamento "serio" com uma mulher, ou seja vocês tem um contrato (simbólico) sobre a relação de vocês, se amam e se bastam, por exemplo. "Traição é traição já dizia a música"... Mas isso não te impede de você desfrutar de sua liberdade de ter relações pontuais com outras pessoas, só um "sexo casual", “afinal ninguém é de ferro né?” “Tem que aproveitar os mementos”. Concordo com a parte da liberdade (para ambos). Mas, ai vem a pergunta: mas se fosse a sua namorada nessa situação? ficando com outros caras? Repentinamente, vem as respostas: "Não!”,  “Pode não!”, Nem imagino". E porque não pode? Você não acredita na igualdade entre seres humanos, amigo? E por que coibir as necessidades pessoais de sua companheira? Ou subestimá-las? Ouçam: mulheres podem também sentir tesão por outras pessoas que não seja seus companheiros, inclusive outras mulheres (olha o perigo...rsrs). Mulheres possuem vida própria para além de suas relações afetivas. O problema é que somos treinadas a se domesticar, a ficarmos caladas e aceitar a situação como está, e muitas não tem nem oportunidade de se questionar porque vivem tão imersas em suas realidades aflitivas cotidianas, com dupla, trilha jornadas de trabalho que vivem silenciadas dentro de suas casas.

5º NÓS NÃO SOMOS SUAS MÃES: mães gestam nove meses em média, parem e tem a total responsabilidade (assim como o pai deve ter) sobre a vida de um serzinho que depende deles até ter autonomia. Então, sua companheira não precisa nem deve assumir as suas demandas pessoais necessárias à sobrevivência, aquelas funções que sua mãe exerceu por você (infelizmente, muitas vezes até muito mais tempo que o necessário), por conta dessa conjuntura naturalizada em que vivemos. Acho que isso é um ponto superado, né? Mas é bom repetir.

6º "AMOR LIVRE" COMO APROPRIAÇÃO MASCULINA
É Linda a filosofia da liberdade amorosa, do respeito à alteridade afetiva dos seres, "o seu amor, ame e deixe-o livre para amar", acredito nessa perspectiva de liberdade, mas o problema aqui é que esse discurso do poliamor e "amor livre" está sendo apropriado pelos homens para manutenção do seu lugar de poder, ainda com a justificativa poética da liberdade dos seres. Mas quando você observa de perto, na maioria dos casos, só sabe dessa liberdade ele mesmo e as garotas que ele pretende conquistas com esse discurso bonito. As justificativas são desde: "eu falo, ela que não quer ficar com ninguém" ou então "ela vai não vai aceitar". Situação essa que não resolve a situação de opressão das mulheres, só camufla e dá um respaldo para os homens se sentirem melhor em relação as suas ações.

7º RESPEITO À SUBJETIVIDADE FEMININA
 Somos um universo vasto, com diferentes criações e acessos, diferenças sociais (Inclusive mesmo dentro da mesma escala social temos diversos demarcadores que nos diferenciam uma das outras). É Importante respeitar os diversos lugares de fala, eu to no meu lugar de fala de uma mulher branca cisgenero, que não sofre uma serie de opressões que outras mulheres negras, trans, etc. sofrem, por exemplo. Então, existem vários graus de opressão, dos mais densos e mais simbólicos e preciso compreender como é difícil se libertar dessa condição de oprimida pelos diversos fatores, as vezes materiais (quando uma mulher pobre depende da renda familiar do marido porque tem que lidar com todo trabalho doméstico não remunerado), afetivos e psicológicos (relacionados muitas vezes a dependência emocional e crença cultural que precisa de um “homem” pra se sentir bem). As fragilidades são múltiplas, e os abusos são diversos. Então, observe, de que forma você estimula e alimenta esse tipo de relação.

8° A CULPA NUNCA É DA VÍTIMA
Discurso recorrente pra justificar machismo declarando que as mulheres também são. REPITA COMIGO: mulheres não são machistas, elas reproduzem o machismo. E isso vale para qualquer relação de poder desigual. Ou seja, ninguém se pune pela condição social em total estado de consciência, ou deseja ser oprimido. Essas pessoas só reproduzem uma lógica social vigente e não se beneficiam nessa dinâmica. Então, como a mulher não pode se beneficiar dessa prática, sendo contraditória a sua própria existência humana, que usamos o termo reprodução. Ok?


9° DESCONSTRUÇÃO
É preciso! É importante para a evolução do ser que anseia pela igualdade e o amor. Pois, é muito fácil falar da nossa estrutura social opressora, assumir até papeis de militância dentro e fora da universidade, mas não se perceber no cotidiano, quais as relações de micropoder que estabelece com suas companheiras, namoradas, paqueras, enfim, qualquer tipo de relação estabelecida. DESCONSTRUIR não é dizer teoricamente dos autores que você acredita, nem para aparecer mais interessante para as feministas.  Mas, um processo contínuo de autoanalise, de se perceber enquanto pessoa, observe o seu lugar e buscar melhorar suas práticas, ouvir, ouvir, ouvir mais um pouco, quem sabe... É difícil? Sim é difícil pra caralho, porque tem um monte de homem que não ta nem aí, que não vai ter a mesma paciência de ler como a que eu tive de escrever esse texto. Acredito, apesar do contexto, na mudança de mentalidades, ela é leeeeenta, muito lenta, lentíssima, mas...Ta acontecendo. FALAR (das opressões) é preciso OUVIR (tentar entender e respeitar) mais ainda. Se é difícil pra vocês homens, imagine pra nós mulheres...

terça-feira, 28 de março de 2017

Ladainha

Se pensas que me conhece
Se pensas que me conhece, aiai
Tas pensando muito errado
Pois o que vê é superfície
Porque mergulha muito raso

Eu sou a sede do pote
Que você não pode ver
Pois bebe de tanta água
Que nem deve perceber

Só voraz e sou segura, êêê
Cheia de tanto querer
Sou leve semeadura
Que quer ver tudo crescer

Sou amor de terra firme
Que espero amanhecer
Só não me tome de sem nome, aiai
Não aguarde para ver

É forte o que me acompanha, êêê
Intenso é meu caminhar
E não é pedra pequena, colega vei
Que vai me fazer parar

Agradeço a capoeira, êêê
De todo o meu ser
Por me manter firme e forte

Pois me chamo é Dendê, camaradinha...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Poesia sem tamanho

Pernas de alicate,
olhos de jabuticaba madura, curiosos.
Sorriso que brilha mais
que o sol do meio dia

Pele ambrosiada,
de sardas pintada,
de todo o resto que me afeta,
mas não precisa de fala

E ela fala...
Fala que às vezes me grita aos ouvidos
E se cala, se fecha a sete chaves,
as vezes só, outras, acompanhada.

E ela muda de nome
Cansou de ser Maria,
cansou de ir com as “outras”
Quer ser gente

Diz-se Ana
Mulher forte,
destemida que enfrenta
maremotos e tempestades

Ana quer o mundo
Quer a todos
Quer a si própria
E não quer ninguém

Mas o mundo é pasto
É boi
É boiada
É vida de gado

Ana se entristece
porque é madeira de lei
Quer animais silvestres,
mata fechada

Então, Ana se devasta
E Maria fala
Fala cada vez que Ana cede,
que se sente só, que se aborrece

Acha que tudo é fase
Que tudo é métrica
Cálculo matemático
Previsão virginiana

Que deus é sarcástico
Que viver é um tédio
Metafísica é o caralho
E foge pra dentro de si

E dentro de si vê Ana adormecida
Embriagada de tantos quereres
Taxada de louca, desvairada,
Esquecida

E diz: “acorda, Ana!
Ainda é cedo, dá pra sair, troca de roupa,
assim, assim...,
Um pouco mais ousada”.

E se vê bem
Se auto assimila
Alimenta e mata
alguns desavisados na esquina

E Ana vai à busca
De todos os líquidos emissíveis quer beber
De todas fontes secar
Quer achar oásis no deserto

De certo que me desperta
tão indissolúveis sensações
de dizer:
“Vem Ana, em rio calmo desaguar”

Mas ela quer mar,
oceano aberto
Pobre de mim
que não sei nadar

Que me liquidifico
Em poças d’agua
Que boio no raso
Com medo de afundar

Que me derramo no desmantelo
Que bebo água no desespero
Que evaporo
Pra não me afogar

E fico na maresia
vendo a beira mar,
a terra firme
que se faz Maria

E a navegar
por águas insanas
Ouvindo o canto de Iara
Nas barbatanas de Ana

Mas o vento vai e vem
Água, terra,
em barro ao fogo se solidifica,
e a própria natureza dá forma

Não são meus dedos que vão te moldar
Não são essas palavras
que vão te emoldurar,
mas esses versos vão...

Dissolver minhas sensações
Dispersar meus sentimentos
Dizer silêncios
E distinguir sede de saciedade.