terça-feira, 6 de novembro de 2018

A tal da química


Na correria embaraçada entre passos
a drenar linhas de passagens
pra me salvaguardar
Eis que aparece um ser do meu lado
e em um abraço embalado me disse:
“Oxe, tua sina é amar”

E eu que não pude me desfazer do laço
amortecida em dor fina de
um desprendimento do questionar:
“será? Tô ainda...”

Antes que pudesse ver já era dia
E dou pra minar qualquer desculpa de despreparo
E meu ato nina o sono que desfaz
o corte e o sol brilha, metabolizando
tudo que sou em essência:
Pura felicidade


sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Sexta Feira


Hoje acordei e nem era dia. Atordoada, peguei um balde d'água, caminhei o quintal procurando o gato que zunia, que meu sono perturbava, mas nada achei, nem barulho, nem gato, só ventania. Voltei a deitar, mas o sono confuso, um misto de desespero e agonia do momento que estamos vivendo atualmente.
Mas o dia chega e a rotina sucumbe ao calor do sol quente que erraria como sol de meio dia as seis horas da manhã.  E é dia de feira, de cheiros, sons, tons e maciça correria, de ofertas, de pedidos de esmolas, de meninos e seus carrinhos de mão que tiram seus trocados na condução das feiras.  Do povo da roça que vem comprar e vender seus produtos. Desde criança o melhor dia da semana. 
Dia que vovó vinha pra cidade, mesmo com aquela relação distante, sem muito chamego, era apenas um “bença vovó” retribuído “deus lhe ajude minha fia”, sentávamos e ouvíamos aos clamores da veia arretada que durante muito tempo morou na companhia de gatos, galos e galinhas na roça da Laranjeira.
Sexta feira, dia de mais movimento na barraca de banana de tio Jair, na discolância de tio Gildásio, de tia Nilda vender roupas e tia Evani seus beijus de goma.
Dia que a gente ia ajudar painho na feira, seja na época do coco, amendoim ou picolé, aprendendo a dar valor ao trabalho e ao dinheiro desde cedo.
Era também, dia da gente comer uma coisinha diferente na feira, seja um acarajé, um pastel ou bolinho, coisas que tavam bem distantes do nosso cardápio semanal.
Dia que a escola quase não funcionava, quando a gente estudava a noite então...
 A noite de sexta também era quente, embalada pelos anseios de adolescentes, a praça da Babilônia e da Matriz se achavam atoladas de gente, que assim como na feira, buscavam entre o diverso algo do seu interesse.
Hoje a noite não movimenta tanta gente como antes, talvez receio das pessoas de saírem de casa ou outras propostas tecnológicas do momento. Mas a feira ainda é algo pulsante e é o cartão postal que carrego comigo de minha cidade natal. É também o que busco em outras cidades, logo quando chego pergunto: “onde fica a feira?” e por sorte minha morada é numa cidade chamada Feira de Santana, que carrega consigo todos os símbolos de resistência de feirantes que historicamente lutaram e lutam pela sobrevivência e autonomia através das feiras. Hoje é sexta, é dia de paz, de fartura, de correria, é dia de Feira.
26/09/2018