Hoje acordei e nem era dia. Atordoada,
peguei um balde d'água, caminhei o quintal procurando o gato que zunia, que meu
sono perturbava, mas nada achei, nem barulho, nem gato, só ventania. Voltei a
deitar, mas o sono confuso, um misto de desespero e agonia do momento que
estamos vivendo atualmente.
Mas o dia chega e a rotina sucumbe ao
calor do sol quente que erraria como sol de meio dia as seis horas da
manhã. E é dia de feira, de cheiros, sons, tons e maciça correria, de
ofertas, de pedidos de esmolas, de meninos e seus carrinhos de mão que tiram
seus trocados na condução das feiras. Do povo da roça que vem comprar e
vender seus produtos. Desde criança o melhor dia da semana.
Dia que vovó vinha pra cidade, mesmo com aquela relação distante,
sem muito chamego, era apenas um “bença vovó” retribuído “deus lhe ajude minha
fia”, sentávamos e ouvíamos aos clamores da veia arretada que durante muito
tempo morou na companhia de gatos, galos e galinhas na roça da Laranjeira.
Sexta feira, dia de mais movimento na
barraca de banana de tio Jair, na discolância de tio Gildásio, de tia Nilda
vender roupas e tia Evani seus beijus de goma.
Dia que a gente ia ajudar painho na feira,
seja na época do coco, amendoim ou picolé, aprendendo a dar valor ao trabalho e
ao dinheiro desde cedo.
Era também, dia da gente comer uma
coisinha diferente na feira, seja um acarajé, um pastel ou bolinho, coisas que
tavam bem distantes do nosso cardápio semanal.
Dia que a escola quase não funcionava,
quando a gente estudava a noite então...
A
noite de sexta também era quente, embalada pelos anseios de adolescentes, a
praça da Babilônia e da Matriz se achavam atoladas de gente, que assim como na
feira, buscavam entre o diverso algo do seu interesse.
Hoje a noite não movimenta tanta gente
como antes, talvez receio das pessoas de saírem de casa ou outras propostas tecnológicas
do momento. Mas a feira ainda é algo pulsante e é o cartão postal que carrego
comigo de minha cidade natal. É também o que busco em outras cidades, logo
quando chego pergunto: “onde fica a feira?” e por sorte minha morada é numa
cidade chamada Feira de Santana, que carrega consigo todos os símbolos de
resistência de feirantes que historicamente lutaram e lutam pela sobrevivência
e autonomia através das feiras. Hoje é sexta, é dia de paz, de fartura, de
correria, é dia de Feira.
26/09/2018