domingo, 18 de agosto de 2019

Do oco o eco

Um escopo
Que tão sem mira
Ou meta
Acerta

Um corpo
Que nem tão quieto
Ou fugaz
Desperta

Um pouco
Do querer que ata
E desata em mim
Uma fresta

Do outro
Que assim quer
Ou não
Sem pressa

O ato
De ser um copo  não tão cheio
Nem vazio
Mas que transborda o que deserta. 

Sinais de chuva


O aboio do vaqueiro
Vem da chuva que não veio
É lamento sertanejo
Que inunda meu sertão

Vem da prece de Maria
Reza pra seu padroeiro
Mandar água lá do céu
Pra molhar o seu terreiro

Já se passou São José
E nada das trovoadas
Pra plantar milho e feijão
Pra lá pro São João
Fazer grande farreada

Triste canto do cancão
Bem-te-vi  (anun)cia
O culeiro a sofre
O tiziu em canção vê
Cardial que silencia

A caatinga que persiste
No correr da siriema
Quixabeira, xique-xique
Calumbi, juá, jurema

Ipê, imburana de cheiro
Cutia, teiú, tatu
Arueira, mandacaru
Inté jararaca no cajueiro

Cabra, ovelha, gado
Sobrevivendo do bom grado
Da raiz da macambira
Da sepa do sisal
Da palma o corte é sinal
Que aqui tudo se vira

O olhar marejado de Maria
De perto anun branco disperta
Sapo cururu sai a passeio
Ao passo que o formigueiro
sua casa deserta

Mandacaru florido
é graça que apetece
À deus do céu agradece
Pela chuva tão esperada